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Controle de emissões em usinas WtE: como garantir uma operação limpa e segura

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A crescente geração de resíduos sólidos urbanos, a necessidade de redução das emissões de gases de efeito estufa e a busca constante por fontes renováveis de energia têm colocado a Waste-to-Energy (WtE) – ou Unidade de Recuperação Energética (UREs) – no centro das discussões sobre sustentabilidade, levantando questões como o controle de emissões em usinas WtE.

Ao transformarem os resíduos que não podem ser reciclados em energia elétrica ou térmica, essas unidades reduzem o volume destinado a aterros e geram eletricidade. Essas usinas representam soluções eficazes para regiões altamente adensadas em termos populacionais e com aterros sanitários cada vez mais distantes. . 

Contudo, por envolver processos de combustão e tratamento térmico, preocupações sobre emissões atmosféricas são plausíveis. Como garantir que uma URE  mantenha uma operação limpa e segura? Quais tecnologias existem para monitorar e controlar os poluentes liberados no processo? Vamos explorar essas questões neste artigo.

O que são usinas WtE, ou Unidade de Recuperação Energética (UREs)?

As Usinas de Recuperação Energética (UREs) são unidades de tratamento de resíduos comumente presentes em grandes cidades, que possuem grande demanda de gestão de resíduos e pouco espaço para a criação de um aterro sanitário. 

Seu processo consiste na queima de materiais que não podem ser reciclados, por meio de  energia elétrica ou térmica, reduzindo o volume destinado a aterros e gerando eletricidade.

Essa alternativa, amplamente utilizada na Europa e na Ásia, está chegando no Brasil, com a primeira unidade de URE em Barueri, São Paulo.

Os cuidados na incineração de resíduos

Quando a queima de resíduos se torna perigosa e quais são os cuidados necessários? Para entender esta questão, é necessário diferenciar a queima de resíduos domésticos e o  modelo adotado  em uma usina WtE.

A queima de resíduos domésticos é um crime ambiental previsto na Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/98). Ao incinerar resíduos, a fumaça carrega poluentes tóxicos, fuligem e gases de efeito estufa, como o carbono e o metano, representando prejuízo à saúde humana e impacto ambiental, além do risco de incêndios de grande escala.

É por essa razão que a incineração de resíduos deve ser feita de forma controlada, em um sistema tecnológico que não apenas evite os perigos dessa prática, como também transformem este processo em um ganho para a sociedade, como o WtE.

No Brasil, existem três principais marcos na regulamentação dessa prática:

  • RESOLUÇÃO CONAMA nº 316, 2002, que dispõe sobre procedimentos e critérios para o funcionamento de sistemas de tratamento térmico de resíduos. 
  • Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), 2010, que legisla sobre o gerenciamento de resíduos sólidos, incluindo a incineração como uma das tecnologias de tratamento. 
  • Decreto nº 10.936, 2022, que regulamenta a PNRS com diretrizes para a gestão de resíduos sólidos, incluindo os aspectos técnicos e ambientais da incineração.

Portanto, todas as usinas WtE (waste-to-energy), baseadas em combustão ou outros processos térmicos, precisam de um sistema eficiente de limpeza de gases para estar consoante aos padrões legais de emissões atmosféricas. 

Controle de emissões em usinas WtE

As usinas WtE possuem sistemas avançados de controle de poluição do ar, visando garantir a operação segura e eficiente dessas instalações, cumprir as regulamentações e atender às demandas sociais, além de promover o descarte adequado e a valorização dos resíduos.

Os sistemas de controle são parte essencial das Unidades de Recuperação Energética – URE, projetadas para converter resíduos em energia útil, minimizando o impacto ambiental. 

Dentro da operação de uma URE, tecnologias como redução catalítica seletiva (SCR) e purificadores úmidos desempenham um papel indispensável na redução do impacto desses poluentes na qualidade do ar.

O controle de emissões, na prática

Os sistemas modernos de controle da poluição do ar (APC – air pollution control) presentes nas usinas de WtE possuem múltiplas etapas para a remoção de cinzas volantes, gases inorgânicos e orgânicos, metais pesados e dioxinas dos gases de combustão.

Na prática, após iniciar o processo de queima, o calor é usado para a produção de energia, enquanto os gases emitidos são direcionados  a um sistema de filtros e depuradores que removem partículas e poluentes dos gases de exaustão, como os gases ácidos, metais pesados, óxidos de nitrogênio (NOx) e dióxido de enxofre (SO2) e furanos.

Além disso, precipitadores eletrostáticos (ESPs) e filtros de tecido (baghouses) podem ser usados para capturar e remover partículas.

A redução catalítica seletiva (SCR) é outra das principais tecnologias usadas em usinas de conversão de resíduos em energia para controlar óxidos de nitrogênio (NOx), gases responsáveis por chuva ácida e problemas respiratórios. No processo, injeta-se amônia ou uréia no fluxo de gases quentes, que passam por um catalisador onde o NOx é convertido em nitrogênio (N₂) e vapor de água (H₂O),

Este processo visa reduzir a concentração inicial de poluentes para que, ao sair da câmara de combustão, atenda níveis muito abaixo dos limites estabelecidos pela legislação, garantindo que o método não cause impacto ambiental ou riscos à saúde.

Por fim, para que o processo de APC seja bem-sucedido, sensores em tempo real registram os níveis de poluentes e respondem aos controladores. Em São Paulo, por exemplo, o monitoramento é realizado em tempo real, online, pela CETESB – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo.

Além das emissões: o tratamento das cinzas

Além dos gases liberados na atmosfera, usinas WtE geram resíduos em forma de cinzas. Na URE Barueri, as cinzas corresponderão a uma média entre 15 e 18% do material que entrar na caldeira, e serão transportadas  para aterros sanitários devidamente licenciados.

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As usinas WtE representam uma solução estratégica para o desafio de promover a destinação ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e gerar energia limpa, em um país que ainda destina 40% de seus resíduos a mais de 2100 lixões a céu aberto. Contudo, seu sucesso está diretamente associado à percepção de confiança da sociedade quanto  à segurança ambiental.

Sem dúvidas, o controle de emissões, aliado à gestão responsável e à transparência na operação, é a chave para que essas plantas sejam vistas não como fontes de poluição, mas como solução de circularidade e sustentabilidade na gestão de resíduos.

Ao garantir uma operação limpa e segura, as usinas Waste-to-Energy podem se tornar peças fundamentais para uma economia circular e de baixo carbono, em que nada é desperdiçado e tudo é valorizado.

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